Quem realmente está lucrando com as fazendas de likes e ela pode realmente trazer benefícios para aqueles que fazem parte?

Construir autoridade passa pela credibilidade que a audiência dá ao influenciador, não através do engajamento de pessoas que querem apenas fazer uma renda extra.

As Fazenda de Cliques são pseudo-empresas que se organizam para gerar engajamento, tidos como “reais”, para contas e perfis nas redes sociais. A partir deste serviço, é possível contratar desde novos seguidores, até visualizações em vídeos dos stories e Reels.

Essas organizações recrutam milhares de pessoas, prometendo ganhos acima de 2 mil reais para que elas interajam com centenas de perfis e contas, que contratam esses serviços com o objetivo de gerar números altos de curtidas, likes e visualizações.

As pessoas que são contratadas para interagir ganham por performance. Ou seja, quanto mais vídeos elas assistirem, mais curtidas elas derem em conteúdos aleatórios, mais elas ganham dinheiro.

Mas será que ganham mesmo? Segundo a DigiLabour, essas empresas pagam menos de 1 centavo por interação e, para que as pessoas possam ganhar dinheiro com isso, precisam passar horas de seus dias assistindo e interagindo nos conteúdos.

Para aumentar os resultados dos seus ganhos, essas pessoas passam a criar contas novas e, falsas, para fazerem o trabalho de assistir e curtir conteúdos. Pior ainda: envolvem seus filhos no esquema, para que eles engajem nos conteúdos dos contratantes.

É tão assustador, que deixaria até os grandes capitalistas horrorizados com o nível exaustivo de trabalho, frente ao rendimento baixíssimo (R$ 0,006).

Quem são esses contratantes?

Os perfis são variados: desde influenciadores, até empresas que buscam notoriedade no digital, políticos, jogadores de futebol, e muito mais.

Para os criadores de conteúdo e suas agências, que topam investir nesse tipo de negócio obscuro, o objetivo é elevar o alcance e engajamento de seus perfis nas redes sociais, como forma de mostrar que aquele perfil é melhor que outro.

Com mais engajamento, mais visualizações, mais seguidores, o criador de conteúdo passa a ser mais atrativo para as marcas. Como resultado, o creator consegue mais jobs e, lógico, mais dinheiro.

Mas a marca que fecha contrato com influenciadores que fazem uso desse tipo de fraude, vai se deparar com um ROI incompatível com a realidade dos números apresentados pelo criador de conteúdo em seu media kit.

Isso porque o criador de conteúdo não está entregando para a marca um valor real da sua autoridade, e sim um amontoado de interações de pessoas que não possuem o menor interesse naqueles conteúdos, ainda mais no produto em si.

Influência não é sinônimo de curtidas

A influência do criador de conteúdo é conquistada através da criação de autoridade junto a uma comunidade, ou seja, uma audiência verídica. No caso dos creators que contratam as fazendas de likes, o engajamento é falso, composto apenas por pessoas querendo ganhar um dinheiro extra enquanto navegam pelas redes.

Construir autoridade passa pela credibilidade que a audiência dá ao influenciador, e que lhe é dada pela confiança em seus conteúdos e seu notório saber e experiências. Seja pelo quanto as pessoas se identificam ou se sentem representadas por elas, seja com produtos e serviços que ela apresenta.

Então, quem lucra com a fazenda de likes?

Nessa cadeia exploratória, ninguém ganha nada com isso: influenciador não constrói autoridade, marca não alcança mais pessoas para conhecerem seus produtos e serviços. Nem mesmo as pessoas que estão interagindo com aquilo ganham, pois estão sendo exploradas e tendo seu tempo e trabalho precarizados.

Só quem ganha de fato com isso são essas pseudo-empresas, que faturam sobre todos os lados.

Um influenciador que contrata ou mesmo divulga esse tipo de serviços, está enganando-se a si mesmo, criando ainda um ambiente nada transparente, além de incentivar a precarização do trabalho alheio.

Uma marca que contrata esses influenciadores, está dando dinheiro por aí sem o menor critério, e não obtendo nenhum retorno com aquele investimento. Além, mais uma vez, de incentivar ainda mais a exploração de pessoas em uma cadeia de trabalho precarizada.

É preciso que os profissionais de marketing passem a conhecer mais do mercado em que estão inseridos! Sabendo que existem centenas de práticas fraudulentas, e prevenindo-se de fazer contratações infundadas.

Qual a estratégia ideal para as redes sociais?

Conhecer o mercado, ferramentas de análise e contratar serviços mais qualificados e dedicados a encontrar os melhores perfis para divulgar seus produtos para pessoas de verdade é a estratégia ideal.

E ainda, as marcas precisam adotar novas posturas diante da contratação de criadores de conteúdo! Como por exemplo, abrir mão de valorizar apenas a performance vaidosa que têm os números das redes sociais.

É necessária uma mudança cultural nesse sentido, onde as marcas passem a valorizar mais o conteúdo de qualidade, desenvolvido por pessoas que tenham real autoridade em seus nichos, e que o façam de forma ética e transparente.

Dessa forma, tenho certeza de que notaremos uma diminuição na contratação desse tipo de serviços por parte de influenciadores. Assim como uma diminuição na criação de subempregos, que forçam nossa economia a ser cada vez mais impactada pela desvalorização do mercado de trabalho.